Crônicas do Serpa
Crônicas do Serpa |
Estávamos terminando o ano de 1975, os novos estádios já prontos e inaugurados em João Pessoa e em Campina Grande. A Paraíba com direito a participar do então campeonato brasileiro, sendo representada pelo Campinense Clube, que vinha ganhando quase todos os títulos do estadual.
E como se surgisse do nada, apareceu nas manchetes dos jornais da capital, um empresário paulista de pequena estatura física, de modos simples, chamado pelo nome de José Flávio Pinheiro de Lima, disposto a assumir a presidência do Botafogo Futebol Clube.
Esse industrial paulista tinha instalado e era diretor presidente de uma fábrica de adesivos aqui na capital, denominada de Adesene, mas o mesmo gostava e respirava futebol vinte e quatro horas por dia.
Em seu rico currículo de desportista, constava que tinha jogado de meia esquerda, quando garoto. Sócio, conselheiro e fanático pelo São Paulo Futebol Clube, dirigiu as suas categorias de dente de leite e em seguida o importante departamento amador do tricolor do Morumbi.
Aliado a esse currículo, havia o empresário, o homem de visão e de muito tirocínio. Na verdade, ele estava anos luz a frente da nossa realidade e chegava justamente na hora da transição do nosso futebol, que há bem pouco tempo era jogado na Graça, na capital, e no Presidente Vargas, na Serra da Borborema, e também não disputava a cobiçada competição nacional.
E esse desportista, ao assumir a presidência do clube, formou uma diretoria sólida e harmônica, colocou salários e bichos em dia. Acertou em definitivo as transferências de Salvino, Nilton, João Carlos, Evandro, Nelson e Luisinho que tinham estourados a idade no Sport Clube do Recife e aqui estavam emprestados. Também regularizou a situação de jogadores como Baltazar, Fantick, Benício e outros atletas remanescentes do plantel.
Logo em seguida, veio a maior surpresa para a torcida botafoguense e a imprensa esportiva. José Flávio, usando de seu prestígio junto ao tricolor do Morumbi, começou a trazer para o Belo, jogadores que tinham estourado a idade na categoria de base, como Vinícius, Zé Luis, Lucas, Muller e Roberto Viana.
Também vieram jogadores do quadro profissional, como Zé Carlos, Piau, Perez e o excepcional Mauro Madureira, sendo este último denominado pela imprensa como o Deus negro da Maravilha do Contorno. Sendo ele, segundo a imprensa o maior e melhor atacante de todos os tempos do clube.
Foi uma revolução em nosso futebol, lotando os estádios da Paraíba, surgindo as belas e inofensivas torcidas organizadas, criando o hábito na mulher paraibana de frequentar o campo e torcer pelo seu time. Literalmente foi uma febre que contagiou a todos, velhos, crianças e mulheres, enfim a família passou a ir uniformizada assistir ao seu time de coração.
Os títulos passaram a ser conquistados, seguidamente; a torcida eufórica agradecia e prestigiava aquele presidente e sua respectiva diretoria, comparecendo em massa ao estádio, realizando passeatas, invadindo as cidades aonde o Belo jogava. Os bons resultados no campeonato nacional chamavam a atenção da imprensa do sul, gerando manchetes e comparações. O trânsito livre de José Flávio com a diretoria do São Paulo era enorme, intenso e exitoso. A crônica esportiva, em uma de suas comparações, comparou a coragem e esperteza de José Flávio, ao grande cartola Francisco Horta, que montou, na mesma época a inesquecível e imbatível “Máquina” no Fluminense carioca.
Claro que na vida tudo não se resume a flores. E no Botafogo isso não seria diferente, surgindo os descontentes, os invejosos, os do contra, os opositores, etc. Enfim, aqueles que não conseguem visualizar as virtudes, olhando e comentando apenas os erros. E uma dessas falhas cometidas por José Flávio Pinheiro Lima, foi ao acrescentar a cor vermelha ao uniforme do clube, não o fazer apenas na estrela, como previsto no estatuto e usado hoje, mas sim de uma forma que lembrasse o seu time de coração, o São Paulo, Já chamado pelos descontentes de matriz, sendo o Belo uma simples filial.
O que gregos e troianos e principalmente paraibanos não podem negar é que o nosso futebol é dividido em antes e depois da era José Flávio Pinheiro Lima, o pequeno grande homem, que transformou o nosso futebol da noite para o dia. Ele foi a alavanca propulsora que nos tirou do semiamadorismo e nos encaminhou ao profissionalismo que hoje vivenciamos.
Este artigo é dedicado a Rodolfo Pinheiro Lima, filho de José Flávio e também ex-presidente do Botafogo.
Francisco Di Lorenzo Serpa
Membro da API, UBE e APP
falserpa@oi.com.br
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