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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Belo calou o Maracanã!


Crônicas do Serpa


Sabemos que todo jogo possui a sua estória, e que nem sempre obtêm êxito o clube mais famoso, que possui maior torcida, o que joga em casa ou que tem maior e melhor plantel, etc. Futebol, como nos ensina os especialistas só se ganha dentro de campo, jogando com raça, determinação e conjunto. A seleção da Alemanha ratificou essa máxima na última copa, vencida aqui no nosso país.

Eu me atrevo a dizer, que na noite do dia seis de março de mil novecentos e oitenta (06-03-1980), no maior estádio do mundo, o Maracanã, o futebol não foi uma caixinha de surpresas e sim um enorme caixão de enorme surpresas.

Era jogo da primeira divisão do campeonato brasileiro, tendo de um lado o todo poderoso Clube de Regatas Flamengo, que tinha em seu destacado plantel estrelas como Zico, Paulo Cesar Carpegianni, Andade, Adílio, Raul, Tita, Nunes e outros mais. O seu técnico era o competente Claudio Coutinho, que havia dirigido a nossa seleção canarinho na copa da Argentina.

Aquele campeonato ao chegar ao seu final, foi conquistado justamente pelo Flamengo, em decisão memorável contra o Atlético Mineiro. Zico não só foi o artilheiro como também foi escolhido o melhor atleta da competição. O time carioca perdeu apenas dois jogos naquele campeonato.

Voltando ao jogo comentado, do outro lado do campo, estava um pequeno time do Nordeste, precisamente o Botafogo Futebol Clube da Paraíba. Logo, todo mundo pensou em jogo fácil, em goleada por parte dos cariocas, pois havia enorme diferença em tradição, títulos e principalmente em elenco.

O nosso Botafogo, naquela época era comandado pelo falecido técnico Francisco Barbosa Gomes, o Caiçara, como era conhecido aquele treinador que muitas alegrias deu ao time da Maravilha do Contorno. Caiçara, com a sua simplicidade e conhecimento do futebol, não determinou nenhuma marcação especial para Zico, ou outra estrela do time da Gávea. Ao contrário, mandou o time jogar o que sabia, sem se preocupar com o favoritismo do adversário, não armando retranca e jogando ofensivamente com as devidas e necessárias cautelas.

O mestre Caiçara, que já havia treinado o Botafogo em outras decisivas e importantes oportunidades, inclusive sendo o mentor do inesquecível título de 1968, quando a hegemonia do futebol retornou para a capital paraibana, tinha para aquele jogo um dos melhores times de sua existência. O Botafogo pisou o gramado do Maracanã com Hélio Show, Nonato Aires, Gerailton, Deca e Marquinhos. Nicássio, Mágno e Zé Eduardo. Getúlio, Evilásio e Soares. Era o seu terceiro jogo na competição, tinha empatado como o Confiança, de Aracajú, e vencido o Clube Náutico, do Recife.

O primeiro tempo terminou empatado em zero a zero. No segundo tempo, logo no início, o ponta Soares fez um a zero para a equipe paraibana. Aos vinte minutos, Tita empatou para os cariocas, e Zé Eduardo, aos 36 minutos fechou o placar, dando a vitória ao Belo.

A torcida do Mengo não acreditava no que presenciou. a imprensa do sul falava em zebra, apesar dos elogios ao time nordestino. A minúscula torcida do Belo que compareceu ao maraca não parava de gritar. 

Escutei aquele histórico jogo ouvindo a Rádio Tabajara, com a espetacular narração de Eudes Moacir Toscano, que nos trazia em tempo real as emoções da partida e interagia com a pequena torcida do Belo que esteve presente ao jogo.

Fora a extraordinária vitória conquistada, um outro fato chamou bastante a atenção de todos. O uniforme do Belo, naquela noite, era idêntico ao do congênere do rio, com o detalhe de não portar o escudo. Várias versões existem sobre esse detalhe, uma é a de que o clube viajou e esqueceu de levar o seu material de jogo e teve que comprara às pressas em uma loja carioca, de propriedade de Nilton Santos, bi campeão mundial.

A outra, mais plausível, é a de que Alvaro Magliano, então presidente do clube, teria sido procurado por João Saldanha, que pediu para o time não usar o padrão todo branco, usual na época, e enfrentar o Flamengo com o uniforme idêntico ao do Botafogo carioca, o seu time de coração.

E para coroar aquele time, onde a bola era tratada não como um instrumento de trabalho, mas com um carinho especial, deslizando com a maestria de um meio de campo formado por Nicássio, Magno e Zé Eduardo, a Revista Placar nos brindou com um poster com a seguinte frase: Botafogo da Paraíba - Matador de Tri-campeões.

Esta crônica é dedicada ao Técnico Marcelo Vilar, um estrategista atual que começou a carreira trabalhando com o saudoso e vitorioso Caiçara.  


Francisco Di Lorenzo Serpa
Membro da API, UBE e APP
falserpa@oi.com.br

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